As dores e separações da Pandemia

As dores e separações da Pandemia

1 de December de 2020 0 By Jussara Mendes

É da natureza dos seres vivos buscar o prazer e evitar a dor.

Nós humanos, para evitar a dor fugimos ou esquivamos de tudo o que nos traz angústia, sofrimento e ameaça nossa vida física ou emocional. E como fazemos isto?

Identificamos o que nos ameaça, nos traz sofrimentos e dores e corremos em direção ao que nos dá alívio e nos propicia o prazer. 

Com a Pandemia fomos compulsoriamente privados da nossa liberdade e submetidos ao impositivo comando “Fique em Casa”.

Ficar em casa significa fique onde está.
Não há possibilidade de buscar o prazer ou evitar a dor lá fora.

E fomos obrigados a lidar com nossos medos e impotência frente a ameaça concreta e iminente da nossa morte e dos que nos são caros. A finitude da vida.

Fomos obrigados a mudar nossa rotina, nossos hábitos, a criar e desempenhar novos papéis, a um convívio compulsório com nosso grupo familiar, cônjuges, pai, mãe e filhos. Sem nenhuma possibilidade de escape..

A busca da harmonia deste convívio é imperativa  para a sobrevivência física e emocional de todos os membros do nosso grupo familiar.

Isto exige recursos internos que muitas vezes a pessoa não tem. Isto exige 

maturidade e equilíbrio para encontrar novas formas para evitar a dor e obter o prazer e sobreviver da melhor forma possível.

O convívio compulsório, as limitações do contato social, as crianças estudando em casa, as pessoas trabalhando em Home Office exige das pessoas novas e desconhecidas habilidades.

É um tufão de novas emoções, novos conflitos, medo, raiva, angústia, depressão e as doenças psíquicas e do corpo chegam de repente.

A pandemia nos tirou a possibilidade de correr, fugir das dores e como não sabemos como lidar com tudo isto que é totalmente novo e inesperado, procuramos formas novas de alívio que muitas vezes trazem um prazer momentâneo, como consumo de álcool, drogas e outras dependências. O que pode gerar ainda mais conflitos e problemas. 

Não há possibilidades de fugir das nossas dores internas, dos nossos conflitos pessoais e familiares.

E acontece o enfrentamento, o que exige muitas habilidades e recursos emocionais. 

Quando os envolvidos não as têm, a solução encontrada é a separação. 

A separação é a garantia da manutenção da integridade física e psíquica e do distanciamento dos problemas que tanto afligem.

É imperativo lembrar: separar e se distanciar do problema é uma forma emergencial de solução, mas o núcleo do conflito continua existindo, guardado dentro de alguma gaveta da memória psíquica. E sempre que se abre uma gaveta o seu conteúdo se desvela e muitas vezes com o desagradável cheiro de guardado. 

Não adianta tentar esquecer. Esquecer é reprimir, é guardar lá no fundo da gaveta o que não se quer ver e enfrentar. Mas fica lá, guardado, existindo. 

E toda vez que a gaveta é aberta, tudo toma vida, revive e invade o ser com toda sua virilidade e pulsão.

Esta nova realidade pode ser um fator de crescimento pessoal. E se você está só, seus conflitos se tornarão menos difíceis se tiver um profissional para lhe  fazer companhia  nestas novas trilhas.

Só o tempo nos mostrará o que ganhamos com tudo isto.